De facto, quando hoje olhamos para o desempenho da economia portuguesa numa perspectiva longa, não há dúvidas que 2001 corresponde a uma mudança de regime no desempenho da economia portuguesa. Depois de quatro décadas entre as economias mais dinâmicas do mundo – com uma taxa média anual de crescimento de 4,5% ao ano – o século XXI trouxe um desempenho económico decepcionante, com uma taxa média anual de crescimento de crescimento de 0% entre 2001 e 2014. É necessário recuarmos 100 anos para encontrarmos um período tão longo com tão mau desempenho. Naquele período, só a Grécia e a Itália tiveram um desempenho semelhante.
No entanto, apesar do seu carácter estrutural, as análises da crise da economia portuguesa têm-se centrado no controlo do défice público e acentuado a dimensão cíclica daquela. Esta perspectiva leva a que, por exemplo, se associe o estado da economia portuguesa à intervenção da Troika, quando esta não é mais do que uma consequência da longa estagnação da economia portuguesa e da acumulação de endividamento desde meados da década de 90.
Uma tão profunda alteração de desempenho da economia portuguesa tem de ter a sua origem nos factores que moldaram a estrutura da economia portuguesa nas décadas anteriores. No livro Crise e Castigo discutimos o papel da integração europeia, do Estado e do desenvolvimento do sistema financeiro no modelo de crescimento prosseguido após a entrada na CEE, bem como as razões que levaram à sua persistência quando no final da década de 90 se acumulavam os sinais de que se encontrava exaurido.
Discutimos também a importância do contexto internacional, nomeadamente o excesso de liquidez e a desvalorização do risco de sobreendividamento, que permitiu a acumulação de endividamento por uma economia que se encontrava estagnada. Argumentamos que foi a benevolência dos mercados financeiros, e a pertença à zona do euro, que prolongou a existência de um modelo há muito esgotado.
Sem percebermos a natureza da mais longa crise dos últimos 100 anos só por um acaso encontraremos a forma de a ultrapassarmos. Esperamos que este livro possa constituir um contributo nesse sentido.
Fernando Alexandre, Luís Aguiar-Conraria e Pedro Bação são autores de Crise e Castigo.