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Entrevista

Ricardo Reis: inflação não é assim tão simples

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E se bastasse um erro do Banco Central Europeu para lançar a Europa numa recessão? Ricardo Reis, um dos economistas portugueses mais premiados da atualidade, desmonta os mitos sobre inflação e mostra porque mantê-la controlada é uma arte delicada - com custos inevitáveis.

Inflação é o nome que damos à perda de valor do euro face aos bens e serviços que compramos. «Imaginando que tenho um lápis que vale um euro, com a inflação, esse lápis já não custa um euro, mas sim dois», concretiza o professor de Economia na London School of Economics.

Mas será assim tão simples compreendermos tudo o que implica e como afeta a nossa vida? Neste episódio de «Isto Não É Assim Tão Simples», o economista desmonta a ideia de que esta variável se deixa controlar facilmente - sobretudo quando decisões políticas, expectativas públicas e choques globais se cruzam.

«Inflação é a mudança no valor das unidades numa folha de cálculo» e quem edita essa folha é o Banco Central Europeu (BCE), ajustando a taxa de juro diariamente. Ao tornar mais ou menos atrativo manter euros ou transformá-los em bens reais, o BCE influencia diretamente o equilíbrio entre consumo, investimento e preços.

O especialista mostra como a inflação não é apenas sintoma de más decisões: é um reflexo de ciclos económicos, de choques inesperados e da forma como os cidadãos antecipam o futuro. «Se esperamos inflação, compramos bens antes que os preços subam. E esse comportamento, por si, já causa inflação», sublinha,

Nesta conversa, o economista relembra como a pandemia e a guerra na Ucrânia foram dois testes à política monetária. Em 2020, o BCE receava deflação e baixou as taxas de juro. Em 2021, as pessoas quiseram gastar mais do que o esperado - e a inflação disparou. Quando veio o segundo choque, a guerra, as expectativas já estavam descontroladas. «Foi esse erro acumulado que tornou a inflação de 2022 mais persistente».

A resposta do BCE foi subir as taxas e funcionou. «A inflação caiu sem que o desemprego aumentasse, mas teria caído mais depressa se tivesse havido uma recessão», nota o professor. É este o dilema que Ricardo Reis conhece bem, sendo também consultor académico do Banco de Inglaterra, do Riksbank e da Reserva Federal norte-americana de Richmond.

E agora? O pior já passou, mas as expectativas mudaram e a confiança no BCE já não é a mesma e novos desafios estão a aproximar-se.

As tarifas impostas pelos EUA a produtos importados são o próximo teste, segundo Ricardo Reis, como já evidenciou nas suas crónicas semanais no jornal Expresso. «Vão gerar inflação interna e recessão», alerta. Mas o risco é global, pois podem gerar guerras comerciais e podem obrigar a Europa a retaliar. Poderá a consequência ser uma recessão na Europa, também?

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