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Resposta de Elísio Estanque à crítica de Henrique Carmona da Mota

Resposta de Elísio Estanque à crítica de Henrique Carmona da Mota

O autor de «Praxe e Tradições Académicas» responde às críticas feitas ao seu livro.
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Henrique Carmona da Mota criticou o livro «Praxe e Tradições Académicas» por conter imprecisões sobre algumas figuras da universidade e da boémia coimbrense. Neste artigo, Elísio Estanque reage às críticas de Carmona da Mota.

 

O sr. Dr. Carmona da Mota, filho de uma das figuras de boémios que cito no meu livro, dirigiu-me, logo após a primeira apresentação do livro «Praxe e Tradições Académicas» em Coimbra, uma mensagem onde veicula os comentários que tece no artigo ontem publicado, e discorre sobre a trajetória do seu pai. Sobre o assunto gostaria de assinalar algumas notas breves:

1. Em primeiro lugar, cumpre-me reconhecer que ocorreu uma imprecisão ao não ter sublinhado que as referidas figuras – incluindo o Dr. Henrique Pereira da Mota, conhecido por “Pantaleão”, e que foi citado uma única vez no meu livro, junto de outros nomes ligados à boémia coimbrã – foram estudantes da Universidade de Coimbra. O lapso deriva simplesmente do facto de “algumas” dessas figuras serem estudantes e outras não e ainda por ter sido induzido em erro por uma fonte secundária (infelizmente não verificada). Essa omissão, no entanto, não justifica, a meu ver, todas as ilações retiradas pelo Dr. Carmona da Mota, muito embora se compreenda a sua incomodidade por não ver reconhecido o papel de prestígio que o seu pai granjeou como estudante e como boémio de Coimbra (sendo, no entanto, nesta última qualidade que ficou na história local). Já lhe fiz saber que em futuras publicações que tenho em mãos essa omissão poderá vir a ser esclarecida. No contexto deste meu livro – trata-se de um ensaio em sociologia e não de um trabalho de história – um tal detalhe é completamente irrelevante.

2. De resto, outras conclusões e juízos que o Dr. Carmona da Mota faz do meu livro são desproporcionadas e até abusivas. A passagem assinalada no livro e outras afirmações (em publicações anteriores) acerca dos citados “boémios”, nomeadamente onde afirmo que «fazem parte da história da academia de Coimbra, sendo de certo modo apropriados por essa espécie de "academia paralela" que animava os ambientes boémios…», é muito clara e objetiva. Ou seja, muito embora tais personagens tenham sido estudantes universitários, eles tornaram-se marcantes na universidade e na cidade sobretudo pela sua condição de “boémios”. É exatamente nessa condição que são frequentemente referidos e são “famosos” em Coimbra, o que aliás fica bem claro no caso do “Pantaleão”, ao ter sido com essa alcunha e não com o seu verdadeiro nome que ficou conhecido. Ou seja, a afirmação está, portanto, correta.

3. Por fim, quando se diz que “algumas” dessas figuras – dos não estudantes, no caso – foram apropriadas pela academia e se tornaram alvo, por um lado, de “cooptação” e por outro de “chacota” por parte dos estudantes, é muito claro no meu livro que estou a referir-me ao “Taxeira”, figura com quem cheguei a contactar em Coimbra nos anos oitenta do século passado. No mais, em todas as restantes referências que faço a essas figuras da boémia trata-se, apenas e só, de afirmar que se tornaram parte da ”academia paralela” constituída por ambientes de tertúlia e de excesso (a “boémia”), e onde, ao mesmo tempo, circularam figuras intelectuais diversas, nomeadamente em finais do século XIX, sendo a maioria deles estudantes. Isto mesmo é realçado no parágrafo anterior à referência que faço à figura do “Pantaleão” (p. 72).

O autor escreve de acordo com o novo acordo ortográfico.

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