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Imagem de uma nota de 100 euros a desvalorizar, devido à inflação

Podemos tornar a economia europeia mais competitiva?

Reduzir a inflação é essencial, mas os governos têm de estar muito atentos à evolução da dívida pública para evitar uma nova crise, alerta Ricardo Reis, professor na London School of Economics e um dos oradores da conferência da Fundação sobre os desafios da política orçamental europeia, em Bruxelas. O economista defende que a União Europeia não deve apenas olhar para as PMEs, mas garantir que as grandes empresas conseguem ganhar escala na Europa sem terem de migrar para os EUA.
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1. Numa altura de grande instabilidade geopolítica e económica, que medidas deve a União Europeia tomar para reduzir o impacto nos cidadãos do aumento da inflação e das taxas de juro?

Reduzir a inflação é uma prioridade, e essa é a tarefa do Banco Central Europeu (BCE). Embora a subida nas taxas de juro de curto prazo que o BCE fixa tenha impacto nas taxas de juro que as pessoas pagam nas suas dívidas, o impacto de a inflação continuar elevada durante muito mais tempo é bem maior e mais persistente nessas mesmas taxas que afetam as pessoas. 

Uma preocupação imediata que os estados podem ter é controlar a evolução da dívida pública. Se o BCE falhar, e a inflação estiver perto dos 2% no final do próximo ano, com as taxas de juro em queda, então vai haver muita pressão sobre as contas públicas. Prevenir que isto possa conduzir a um novo período de austeridade deve ser algo que os governos podem já ter em conta.

 

2. A competitividade da Europa está em causa perante o cenário de guerra, crise energética e pelo aumento das medidas protecionistas dos EUA e da China?

Não necessariamente. Em primeiro lugar, porque estes desafios estão presentes para todos, não só para os países europeus. Segundo, porque algumas das medidas protecionistas adotadas pelos EUA terão o efeito de tornar a economia americana menos competitiva. 

Outras medidas trazem, de facto, algumas vantagens competitivas às empresas americanas. Mas a melhor forma de responder a essas medidas não é tentando prejudicar os americanos, mas antes pensar de que forma as nossas empresas podem tornar-se mais competitivas nivelando o terreno de jogo.

 

3. E quais são os riscos de cada estado-membro seguir a mesma linha, adotando políticas mais restritivas de apoio industrial e subsidiação próprias, de forma a reduzir a sua dependência do exterior?

Há uma enorme pressão para tentar que os países da União Europeia embarquem em políticas de apoio industrial. Quando se escolhe uma empresa ou um setor para apoiar na competição externa, é impossível que isto não favoreça a mesma empresa também na sua concorrência dentro da União Europeia. Não há campeões europeus, mas campeões nacionais. Por isso, uma política industrial agressiva entraria rapidamente em choque com o mercado único. Para países como Portugal, que não tem margem orçamental para dar estes apoios, isto seria particularmente prejudicial.

 

4. Como pode a União Europeia atuar, criando mecanismos eficazes para alavancar um crescimento sustentável dos seus estados-membros?

Na Europa penalizamos demasiado as grandes empresas (porque nos focamos muito nas PMEs). Assim, o que vemos é que quando as empresas querem escala para se tornarem globais, frequentemente se mudam para os EUA. Isto é particularmente notório nas tecnológicas, mas não só, e depende da existência de todo um ecossistema nos EUA, que inclui finanças, gestão e outros serviços, que permite às empresas ganharem escala. Perceber como reverter esta desvantagem comparativa seria um bom começo.

 

 

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Portuguese, Portugal