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Olhar 5 meses para trás e prever 5 meses para diante

Olhar 5 meses para trás e prever 5 meses para diante

Opinião de Francisco George, Presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, ex-Director Geral da Saúde e autor do livro «Prevenir Doenças e Preservar a Saúde», publicado pela Fundação.
3 min

Todos deviam ter percebido que a nova doença, provocada pelo novo Coronavírus, que adquirira expressão epidémica na região de Wuhan, onde emergira no final de 2019, iria galgar a Muralha da China. Seria uma questão de tempo. Afinal os vírus não respeitam fronteiras...

Mas, mesmo assim, estranhamente, foram muitos os que não admitiram essa hipótese, incluindo instituições. Terão confundido opiniões, desejos e crenças pessoais com a realidade científica. Estranhamente, sublinha-se. Convicções que explicam, nestas situações, a não preparação e não mobilização de meios de resposta. Atrasos evitáveis indesculpáveis.

Portugal, naturalmente, não estaria imune.

A 19 de Março foi, por isso, indispensável decretar o Estado de Emergência para assegurar cobertura constitucional às medidas de confinamento iniciais para reduzir a velocidade de propagação da pandemia.

Alerta geral, mas sem alarme. Aceitação social indiscutível. Ruas desertas. Dias lentos. Tempos difíceis nunca antes vividos. Serviços essenciais a funcionar sem interrupção. Abastecimentos garantidos. Segurança nacional sem perturbações. Médicos, enfermeiros e pessoal de saúde em trabalho permanente. Cientistas a movimentarem-se. Campanhas para testes de diagnóstico organizadas com sucesso.

Foi, então, importante informar. Comunicar. Multiplicar recomendações. A imprensa de referência mobilizou-se. Ganhou. A qualidade informativa venceu, pela certa, a difusão de rumores provenientes de blogs de origem duvidosa.

Marta Temido e Graça Freitas incansáveis.

Médicos a responderem nos hospitais. Equipas de Saúde Pública também.  

Surgiram novas palavras no vocabulário comum, novas siglas e novos conceitos. Governantes e comentadores políticos adaptaram-se rapidamente. Procuraram garantir confiança. Antes de tudo, no Serviço Nacional de Saúde, mas, também, na Educação e na Ação Social.

Crise na indústria, comércio e serviços. Preocupação universal. Medos aumentam, mas sem pânico.  Desemprego cresce. Rendimentos familiares descem. Novos pobres aumentam. Solidariedade eleva-se, mas não o suficiente.

Economia com abalos inesperados.

Agora o futuro. União Europeia com programa especial para recuperar economias sacudidas pela Crise. Bom sinal.

Mudar. Devir.

Transformar no sentido da proteção social. Proteger. Prevenir.

Fundos da Europa fundamentais neste processo. Transparência exigida. Prestação de contas. Opacidades intoleráveis. Corrupção inadmissível.

A grande oportunidade para reorganizar o Sistema e erguer um pilar robusto em Saúde Pública. Concretizar o que vezes sem conta é anunciado, mas sempre adiado.

Utilizar máscara, assegurar distanciamento social e lavar frequentemente as mãos com gel de base alcoólica para reduzir a exposição ao vírus. Aceitar imposições mais exigentes em função da situação epidémica. Flexibilidade. O que é hoje recomendado pode não ser amanhã, sem prejuízo de poder voltar a ser na semana seguinte...

Esperar a colocação no mercado de vacinas e medicamentos específicos eficazes. Acessíveis a todos.

Admitir como certeza absoluta que “não há Inverno sem gripe” e que a distinção com a Covid-19 representará um novo desafio.

Francisco George é autor do livro «Prevenir Doenças e Preservar a Saúde», publicado pela Fundação e disponível na loja online.

 

O acordo ortográfico utilizado neste artigo foi definido pelo autor.

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