A
A
Desperdício alimentar e o que podemos fazer para o reduzir

Desperdício alimentar e o que podemos fazer para o reduzir

Fazer cerveja com excedentes de pão? Em Portugal existe uma cerveja fabricada a partir de pão caseiro alentejano e de aguardente de medronho, a “Alen’tejo”. Este é apenas uma das muitas formas como podemos reduzir o desperdício alimentar, conta neste artigo de opinião, a especialista Iva Pires.
4 min

No Reino Unido, estima-se um desperdício alimentar de 156kg por pessoa por ano e em cerca de 780 euros o custo do desperdício de alimentos suportado por cada família por ano.

Fazer cerveja com excedentes de pão não vendido? Porque não? A Toast Ale é uma cerveja onde 40% do malte foi substituído por pão resgatado das padarias ao final do dia. Foi criada em 2016 no Reino Unido a partir da ideia lançada por Tristam Stuart a uma cervejaria e a produção está em crescimento e em fase de internacionalização. Em Portugal também existe uma cerveja fabricada a partir de pão caseiro alentejano e de aguardente de medronho, a “Alen’tejo”.

Estes são apenas alguns exemplos. No fundo trata-se de, no contexto da economia circular que a União Europeia está a promover, dar uma nova oportunidade aos alimentos que, por vezes de forma tão negligente, deitamos para o lixo mesmo estando em condições de serem consumidos. Com benefícios para todos.

Já percebemos as vantagens de reciclar cartão e papel, embalagens de plástico, vidro ou lata, para a partir deles produzir de novo papel ou vidro, mas também bicicletas, roupa, obras de arte, parecendo a criatividade o único limite para as opções de reciclagem e reaproveitamento daquilo que antes estava destinado a ficar acumulado em aterros.

 

89 milhões de toneladas de alimentos despediçados na UE

Porque não fazemos o mesmo com os alimentos que ainda estão adequados para o consumo e que estamos a deitar para o lixo?

Na União Europeia estima-se que 89 milhões de toneladas de alimentos adequados para consumo humano sejam perdidos ou desperdiçados por ano, sendo as famílias responsáveis por (47 milhões de toneladas, ou seja) 53,6% desse valor (FUSIONS, 2016), decorre das decisões e do comportamento dos consumidores e em muitos casos pode ser evitado.

No caso dos alimentos as opções são ainda mais vastas pois cada um de nós, em suas casas, pode dar um contributo relevante. Usando um diário de cozinha durante uma ou duas semanas para registar o tipo de alimentos (leite, iogurtes, frutas, legumes, alimentos cozinhados em excesso e que não foram consumidos..) e as respetivas quantidades permite identificar o quê e quanto a família está a desperdiçar. Em seguida podemos tentar perceber porquê: estamos a comprar grandes quantidades de alimentos frescos, o que irá aumentar a probabilidade de alguns se estragarem e acabarem no lixo? Estaremos a acondicioná-los da melhor forma? Estaremos a cozinhar quantidades excessivas para a dimensão da família? Planeamos as compras em casa para não trazer alimentos que ainda temos disponíveis, no frigorífico ou na despensa? Com efeito, planear as compras pode ser um primeiro passo no sentido de reduzir o desperdício alimentar. Outros são dar uma oportunidade às frutas e legumes que agora rejeitamos apenas por questões de carácter “estético” (frutas e legumes “feios”) e que não estão relacionadas com a qualidade do produto ou habituarmo-nos a pedir uma caixa para trazer para casa o resto da refeição do restaurante, cujo destino será o lixo.

Na internet ideias, conselhos e “dicas” não faltam, basta procurar, motivar a família, começar a poupar e usar esse dinheiro que agora gastamos em alimentos que deitamos para o lixo, num fim-de-semana em família. No Reino Unido, estima-se um desperdício alimentar de 156kg por pessoa por ano e em cerca de 780 euros o custo do desperdício de alimentos suportado por cada família por ano.

 

O acordo ortográfico utilizado neste artigo foi definido pelo autor.

Portuguese, Portugal