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Como distinguir entre uma boa e uma má previsão

Como distinguir entre uma boa e uma má previsão

No livro «Superprevisões», Philip E. Tetlock fala das possibilidades e dos limites das previsões. E identifica o que há numa boa e numa má previsão
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O que distingue uma boa de uma má previsão? O método, diz Philip E. Tetlock. Ao contrário da intuição a que recorrem muitos analistas, o método na base das «superprevisões» é racional e exclui os preconceitos do previsor. Tetlock vem a Lisboa a 23 de Novembro para falar da ciência das previsões.

 

«O especialista médio [de previsões] é aproximadamente tão preciso como um chimpanzé a atirar dardos»

«Provavelmente já ouviu esta história. É famosa — embora nalguns círculos seja detestada. Apareceu no New York Times, no Wall Street Journal, no Financial Times, na The Economist e em muitos outros jornais e revistas em todo o mundo. A história é esta: um investigador pediu a um grande grupo de especialistas — académicos, analistas e outros — que fizessem milhares de prognósticos sobre a economia, o mercado de acções, as eleições, as guerras e outros assuntos importantes. O tempo passou, e quando o investigador verificou a precisão desses prognósticos descobriu que o especialista médio era aproximadamente tão bom como alguém a fazer palpites aleatórios. [...] Aquele investigador sou eu. (págs. 13-14)

É possível prever com mais ou menos exactidão. Até certo ponto

«Pensemos na meteorologia [...]. As previsões do tempo são geralmente bastante fiáveis, na maior parte das condições, com alguns dias de antecedência, mas vão-se tornando menos precisas com três, quatro, cinco dias de antecedência. Se queremos saber como estará o tempo daqui a mais de uma semana, podemos perfeitamente consultar o nosso chimpanzé dos dardos. Não podemos por isso dizer que o clima é previsível (ou não), mas apenas que é previsível até certo ponto, em determinadas circunstâncias — e devemos ter muito cuidado quando tentamos ser mais específicos.» (pág. 25)

Muitos analistas simplificam demasiado a realidade. Onde é que já vimos isto?

«É raro ouvir um jornalista dizer: "O mercado subiu hoje por uma entre uma centena de razões diferentes, ou por uma combinação delas: ninguém sabe." Em vez disso, [...] o jornalista elabora uma história plausível com o que tem à mão. O impulso para criar explicações costuma ser algo bom. De facto, é a força propulsora na base de todos os esforços humanos para compreender a realidade. O problema é que passamos da confusão e da incerteza ("Não faço a menor ideia da razão de a minha mão estar a apontar para a foto de uma pá") a uma conclusão clara e confiante ("Ah, é simples") demasiado depressa, sem perder tempo entre uma coisa e outra ("Esta é apenas uma das muitas explicações possíveis").» (pág. 58)

Outros não. «A chave é duvidar»

«Os cientistas são treinados para ser cautelosos. Sabem que, por tentador que seja apontar a hipótese favorita como a expressão da verdade absoluta, é preciso considerar explicações alternativas. Têm de considerar seriamente a possibilidade de que o seu palpite inicial esteja errado. Na verdade, para a ciência, a melhor prova de que uma hipótese é verdadeira é muitas vezes oferecida pelos resultados de uma experiência destinada a provar que é falsa, mas que não consegue fazê‑lo. Os cientistas devem ser capazes de responder à pergunta: "O que é que me podia convencer de que estou errado?" Se não conseguem fazê ‑lo, é sinal de que se afeiçoaram demasiado àquilo em que acreditam. A chave é duvidar. Um cientista pode ficar tão convencido como qualquer outra pessoa de que está na posse da verdade absoluta, mas sabe que deve pôr essa sensação de lado e substituí‑la por graus de incerteza medidos com precisão — incerteza essa que pode ser reduzida (embora nunca a zero) por provas empíricas de melhor qualidade derivadas de estudos mais sólidos. Esta cautela científica contraria o carácter da natureza humana. [...] A nossa inclinação natural é agarrar na primeira explicação plausível e reunir alegremente informação que a corrobore sem verificar a sua fiabilidade. Isto é aquilo a que os psicólogos chamam enviesamento de confirmação. Raramente procuramos informação que destrua a nossa explicação inicial, e quando esse tipo de informação é esfregada na nossa cara tornamo‑nos cépticos motivados — motivados para encontrar razões, por mais débeis que sejam, para a menosprezar ou descartar por completo. [...] Trata‑se de uma maneira pobre de construir um modelo mental correcto de um mundo complicado, mas de um modo magnífico de satisfazer a aspiração do cérebro à ordem, porque produz explicações arrumadinhas, sem pontas soltas. Tudo é claro, coerente e apropriado. E como "tudo se encaixa" acreditamos estar na posse da verdade.» (págs. 60-61)

Philip E. Tetlock vem a Lisboa no dia 23 de Novembro para uma conferência sobre «Até onde podemos ver o futuro?». Inscreva-se.

O acordo ortográfico utilizado neste artigo foi definido pelo autor.

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