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Vencer o medo de envelhecer: educação e contacto entre as gerações

Texto de Sibila Marques, autora do livro «Discriminação da Terceira Idade».
3 min

O envelhecimento encerra em si um paradoxo inesperado. Quando perguntamos às pessoas “até quando querem viver?”, a maioria diz até aos 90 ou 100 anos. Na verdade, alguns gostariam eventualmente de viver para sempre. No entanto, os estudos internacionais mostram que as pessoas não estão preparadas para essa possibilidade. Inquéritos realizados mostram que existe uma percepção de ameaça generalizada nas populações em relação ao envelhecimento demográfico que se avizinha. Entre os países onde esta percepção de ameaça é mais elevada estão o Japão e a Espanha. Em Portugal, os inquéritos realizados, com amostras representativas, mostram que 30% das pessoas sentem que o envelhecimento representará uma ameaça para os gastos em saúde, cerca de 40% acham que o envelhecimento lhes trará solidão, 25% consideram que vão ser menos respeitados e 18% pensa mesmo que não farão falta nenhuma à sociedade. Infelizmente, estas ideias parecem estar fortemente enraizadas e os estudos mostram mesmo que crianças já desde os 4 anos de idade partilham este “medo de envelhecer”.

Este paradoxo presente ao nível individual parece também existir ao nível do Estado e das políticas públicas. Temos políticas promotoras da longevidade (ex. vacinação) e, ao mesmo tempo, uma ausência de medidas adequadas que garantam uma boa qualidade de vida nos anos a mais que foram criados. Entender as razões que estão por detrás desta dualidade é, sem dúvida, um ponto de partida importante para a intervenção neste domínio.

A este respeito, os estudos mostram que estes receios se associam a uma falta de conhecimento sobre o que é o envelhecimento e como são as pessoas idosas. Por um lado, existem muito poucas oportunidades para o contacto entre as diferentes gerações fora do contexto familiar. Na generalidade, as pessoas de diferentes idades estão confinadas aos espaços que lhes foram atribuídos (ex. as crianças nas escolas e as pessoas idosas nos centros de dia). Por outro lado, a educação sobre estas matérias é escassa. Por exemplo, no contexto nacional, verificamos que estes tópicos são abordadas de forma muito superficial no currículo escolar e não fazem parte das áreas prioritárias consideradas no projecto de Educação para a Cidadania.

As instituições internacionais reconhecem a importância de combater estas imagens negativas do envelhecimento e das pessoas mais velhas nas nossas sociedades. Neste momento, a Organização Mundial da Saúde prepara o lançamento de uma Campanha Global de Combate ao Idadismo que passará obrigatoriamente por dois tipos de estratégias de intervenção: promover a educação para o envelhecimento e as oportunidades de contacto entre as gerações. Estas intervenções poderão ocorrer em vários contextos (ex. escolar, laboral) e tomar várias formatos. Por exemplo, a promoção de contacto poderá ser mais pontual (ex. projectos em escolas) ou mais estrutural (ex. construção de residências e espaços para convivência de pessoas de diferentes idades).

Acreditamos que o aumento do conhecimento sobre o que é envelhecer e como são as pessoas idosas será uma vantagem poderosa nos tempos que se avizinham. Na realidade, “o conhecimento é o antídoto do medo” (Emerson, 1870).

Sibila Marques é autora do ensaio Discriminação da Terceira Idade, publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos.

O acordo ortográfico utilizado neste artigo foi definido pelo autor

    Portuguese, Portugal