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5 Leituras #4, por Catherine Moury: Perfil dos jovens jihadistas, desigualdade e salário mínimo

5 Leituras #4, por Catherine Moury: Perfil dos jovens jihadistas, desigualdade e salário mínimo

Sugestões de leitura de Catherine Moury, a autora de «A democracia na Europa». Quarto artigo da rubrica «5 Leituras» da FFMS.
5 min
Quarto artigo da rubrica «5 Leituras», em que um autor da Fundação sugere a leitura de cinco artigos publicados na internet, em língua portuguesa ou inglesa. Desta vez publicamos as sugestões de Catherine Moury, a autora do ensaio «A democracia na Europa».

 

Lunch with the FT: Mariana Mazzucato
Artigo no Financial Times
(Em língua inglesa)

Nesta entrevista, a Professora de Economia Mariana Mazzucato desconstrói o mito de que só o sector privado é inovador e dinâmico. Ela demonstra que, em termos geral, o sector privado investe apenas após o Estado empreendedor ter realizado investimentos de alto risco. Dá o exemplo do iPhone, cuja tecnologia ‘smart’ foi custeada pelo Estado: a internet, o GPS, o ecrã ‘touch’ e o comando por voz. Mais Estado, em vez de menos, diz Mazzucato, é importante para economias mais produtivas e para crescimento económico sustentável e de longo prazo. O seu argumento de que o sector público tem um papel vital na inovação é particularmente importante num contexto de forte desinvestimento no investimento público na Europa, na sequência da crise da dívida soberana. Mazzucato sustenta ainda que as empresas que beneficiam de investimento estatal deveriam financiar mais o Estado através do pagamento de impostos.

Increasing the minimum wage does not necessarily reduce employment
Artigo de Alan Manning para o blogue USAPP da London School of Economics
(Em língua inglesa)

Este artigo desafia outra ideia comum, a de que aumentar o salário mínimo reduz aumenta sempre o desemprego. De acordo com modelos económicos, isso deveria acontecer porque os empregadores pagam aos seus trabalhadores exactamente o valor que cada trabalhador marginal acrescenta à facturação. Assim, um aumento dos salários fará com que a empresa contrate menos trabalhadores. No entanto, os dados empíricos não mostram um efeito significativo. Alan Manning explica porquê neste artigo. Manning começa por afirmar que um aumento nos salários mínimos pode ter um efeito na produtividade dos trabalhadores. À medida que o salário mínimo aumenta e o trabalho se torna mais atractivo, a taxa de absentismo diminui. Por outro lado, aumenta o sacrifício associado às consequências de perder o emprego. Assim, os trabalhadores ficam mais motivados e trabalham mais. Pessoalmente, creio que as empresas que pagam mais aos seus funcionários também tendem a investir mais nas suas competências, o que deverá aumentar a sua produtividade. Por outro lado, e este é o principal argumento de Manning, pode fazer sentido em termos económicos que os empregadores paguem aos seus trabalhadores menos do que o seu valor marginal, uma vez que a mobilidade laboral e a competitividade das empresas não são tão grandes quanto os modelos económicos sugerem. Isto tem consequências importantes, na medida em que um ligeiro aumento do salário mínimo pode reduzir a margem de lucro do empregador sem que haja um impacto nos empregos, na competitivadade e nos preços. Manning não nega que os níveis de emprego sejam sensíveis à base salarial (o salário mínimo), mas critica a ideia de que qualquer tipo de aumento do salário mínimo tenha um efeito significativo no emprego.

One blunt heckler has revealed just how much the UK economy is failing us
Artigo de Aditya Chakrabortty para o Guardian
(Em língua inglesa)

Neste artigo, Aditya Chakrabortty assinala o facto de que indicadores agregados, como o crescimento do PIB, não permite compreender muito bem a situação económica de um determinado país. Começa por dar o exemplo de uma senhora numa conferência que respondeu a um especialista: “o raio do PIB é seu, não meu”. Chakrabortty diz que esta senhora tinha alguma razão. No Reino Unido, de facto, tem havido crescimento económico mas ele não é distribuído equitativamente. Em Londres e no Sudeste do país, as pessoas são mais ricas do que eram em 2007 – sobretudo tendo em conta a inflação no mercado imobiliário. Noutras partes do país, pelo contrário, as pessoas ficaram mais pobres do que em 2007 – bastante mais pobres, no caso da Irlanda do Norte. Isto significa que devemos ter cautela com dados agregados quando queremos compreender melhor a insatisfação, as dificuldades e as escolhas eleitorais dos cidadãos.

How economic inequalities harm societies
Vídeo de uma TED Talk de Richard Wilkinson
(Em língua inglesa)

Desta vez sugiro uma TED Talk em vez de um artigo. Nesta TED Talk, Richard Wilkinson explica um facto interessante: o bem-estar de uma sociedade depende muito mais da igualdade de rendimentos do que no valor desses rendimentos. Por exemplo, ele demonstra que – para além de um certo nível – os países mais pobres não têm uma esperança média de vida mais baixa do que os países mais ricos. Pelo contrário, e muito claramente, as sociedade mais desiguais têm uma esperança média de vida mais baixa. Mais interessante ainda é que níveis mais baixos de esperança média de vida não resultam apenas da saúde dos mais pobres: os mais ricos nessas sociedades desiguais são muito menos saudáveis do que os ricos nas sociedades igualitárias. Wilkinson também demonstra que as desigualdades num país aumentam fenómenos como a iliteracia, os homicídios, o encarceramento, as doenças mentais – nos pobres mas também nos ricos. A causalidade é a seguinte: quanto maior for a desigualdade, mais prevalece a insegurança em termos de estatuto. As pessoas preocupam-se mais com o modo como são vistas e há mais competição, o que causa stress e um aumento de problemas sociais e de saúde.

The Islamization of radicalism
Artigo de Olivier Roy para o Mada Masr
(Em língua inglesa)

Para terminar, neste artigo Olivier Roy desafia a ideia convencional de que o jihadismo tem raiz na baixa integração social e na radicalização religiosa. Roy sublinha que muitos jovens jihadistas estão bem integrados e não são particularmente religiosos. Quase todos os jihadistas franceses pertencem a duas categorias específicas: ou são imigrantes de segunda geração, ou converteram-se ao Islão (esta segunda categoria constitui mais de 25% dos jihadistas). Roy argumento que o jihadismo não é uma revolta muçulmana, mas um problema específico relacionado com uma determinada categoria de adolescentes – sobretudo imigrantes, mas também nativos franceses. Ele explica o envolvimento desses jovens no jihadismo com o seu fascínio pela violência e a sua rejeição dos pais (que são quase sempre islamistas moderados) e do mundo ocidental. Nesse sentido, os jihadistas são mais como os estudantes que protagonizaram o massacre na escola de Columbine do que radicais religiosos. Roy diz que a solução passa mais por incluir psicólogos na equação do que por controlar o acesso a mesquitas.

Catherine Moury é autora de «A democracia na Europa», um ensaio publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos.

O acordo ortográfico utilizado neste artigo foi definido pelo autor.

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