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Heróis do mar, nobre povo: a luta contra a Covid-19 ainda tem de continuar

Heróis do mar, nobre povo: a luta contra a Covid-19 ainda tem de continuar

Opinião de Sibila Marques, professora e investigadora de Psicologia Social no Iscte e autora de um livro publicado pela Fundação.
6 min

Em Fevereiro de 2020 o mundo ocidental foi surpreendido com um evento muito, muito inesperado. Afinal, as gripes e epidemias que parecem acontecer apenas em países longíquos também chegam à nossa casa.  No início não haveria certamente ninguém que acreditasse que esta situação iria durar mais do que uns poucos meses. Afinal, estávamos tão habituados à velocidade das mudanças e à constante vitória sobre as adversidades na manutenção de um status quo rico em oportunidades (principalmente quando comparamos com o que se passa noutras regiões do mundo).

Rapidamente nos apercebemos de que, afinal, o assunto era sério e que, desta vez, o nosso mundo seria afetado. O que não antevimos foi que iria durar tanto e que iria exigir tanto de nós.

Um artigo publicado no início da pandemia no jornal Lancet procurou compilar os resultados dos poucos estudos realizados sobre os efeitos psicológicos que uma pandemia pode causar. Numa tabela bastante impressionante são resumidos os efeitos e já é assustador verificar que basta um confinamento de poucos meses para criar efeitos bastante significativos e avassaladores no bem-estar e na saúde dos afectados. O que dizer então de uma situação prolongada que exige restrições por mais de um ano.

Na primeira fase do confinamento, os portugueses foram exemplares. Na sua maioria as medidas foram seguidas, apesar das tentativas (infrutíferas) de alguns meios de comunicação social de desacreditarem os esforços de alguns grupos como o das pessoas jovens ou idosas (cada um no seu momento). Na generalidade, no entanto, foi com grande satisfação que recebi, tal como os outros portugueses, elogios pelos nossos esforços e a boa notícia de que a pandemia estava mais controlada pela altura do Verão.

No entanto, todos sabíamos que essa batalha não era a Guerra. Essa ainda ia durar muito mais tempo e exigir muito mais de nós. Os esforços que têm sido pedidos às famílias, às crianças, às pessoas mais velhas, aos professores, aos empresários e naturalmente, e mais do que nunca, aos profissionais de saúde, são notórios. Um exemplo paradigmático é o que se pede às crianças nas nossas escolas. Algumas destas crianças e adolescentes têm aulas em horários duros e sem um verdadeiro acesso aos merecidos intervalos de descanso. Não será nunca demais evocar aqui os estudos sobre a importância dos intervalos para a capacidade de aprendizagem e, já agora, para o nível geral de bem-estar geral das crianças a curto e a longo prazos. E, portanto, isto é o que está a ser pedido às crianças e aos adultos portugueses. E estes seguem, embora agora já demonstrem cansaço acumulado e alguns sinais de perturbação psicológica.

Em Fevereiro de 2020 o mundo ocidental foi surpreendido com um evento muito, muito inesperado. Afinal, as gripes e epidemias que parecem acontecer apenas em países longíquos também chegam à nossa casa. No início não haveria certamente ninguém que acreditasse que esta situação iria durar mais do que uns poucos meses. Afinal, estávamos tão habituados à velocidade das mudanças e à constante vitória sobre as adversidades na manutenção de um status quo rico em oportunidades (principalmente quando comparamos com o que se passa noutras regiões do mundo).

Rapidamente nos apercebemos de que, afinal, o assunto era sério e que, desta vez, o nosso mundo seria afetado. O que não antevimos foi que iria durar tanto e que iria exigir tanto de nós.

Um artigo publicado no início da pandemia no jornal Lancet procurou compilar os resultados dos poucos estudos realizados sobre os efeitos psicológicos que uma pandemia pode causar. Numa tabela bastante impressionante são resumidos os efeitos e já é assustador verificar que basta um confinamento de poucos meses para criar efeitos bastante significativos e avassaladores no bem-estar e na saúde dos afectados. O que dizer então de uma situação prolongada que exige restrições por mais de um ano.

Na primeira fase do confinamento, os portugueses foram exemplares. Na sua maioria as medidas foram seguidas, apesar das tentativas (infrutíferas) de alguns meios de comunicação social de desacreditarem os esforços de alguns grupos como o das pessoas jovens ou idosas (cada um no seu momento). Na generalidade, no entanto, foi com grande satisfação que recebi, tal como os outros portugueses, elogios pelos nossos esforços e a boa notícia de que a pandemia estava mais controlada pela altura do Verão.

No entanto, todos sabíamos que essa batalha não era a Guerra. Essa ainda ia durar muito mais tempo e exigir muito mais de nós. Os esforços que têm sido pedidos às famílias, às crianças, às pessoas mais velhas, aos professores, aos empresários e naturalmente, e mais do que nunca, aos profissionais de saúde, são notórios. Um exemplo paradigmático é o que se pede às crianças nas nossas escolas. Algumas destas crianças e adolescentes têm aulas em horários duros e sem um verdadeiro acesso aos merecidos intervalos de descanso. Não será nunca demais evocar aqui os estudos sobre a importância dos intervalos para a capacidade de aprendizagem e, já agora, para o nível geral de bem-estar geral das crianças a curto e a longo prazos. E, portanto, isto é o que está a ser pedido às crianças e aos adultos portugueses. E estes seguem, embora agora já demonstrem cansaço acumulado e alguns sinais de perturbação psicológica.
Autora

Infelizmente, no entanto, como vemos nas notícias, este não é o momento de facilitar. Portugal é, neste momento um dos países com mais infectados e com mais mortes por habitantes devido à Covid-19.  Então, é preciso reagir e agir novamente e, desta vez, com mais força ainda. O treino do ano anterior é importante.

Há pouco tempo pediram-me a minha opinião enquanto Psicóloga Social sobre como fazer com que os portugueses cumpram as ordens de confinamento. Esta é a minha resposta: explicando a situação e pedindo de forma firme que o façam, em grande esforço e sacrifício, pela nação.  Uma liderança firme, com exemplos de boa conduta, é do que precisamos novamente.  O mesmo artigo do Lancet que já referi dá indicações claras: as medidas de confinamento têm efeitos mais adversos quando são impostas sem uma explicação adequada. A ênfase no altruísmo é fundamental e o apelo ao confinamento voluntário diminui os impactos psicológicos e aumenta a adesão. Uma adesão voluntária que não carece, obviamente, de uma monitorização adequada ao longo do tempo sobre o seu grau de cumprimento.

Então, a nossa identidade nacional não existe apenas quando todos juntos aplaudimos o Cristiano Ronaldo nos campeonatos mundiais. Sempre que é preciso ela aparece. Todos juntos no combate À Covid-19, com as medidas que são necessárias, e os apoios solidários para que os mais desprotegidos possam enfrentar este momento tão difícil para todos nós. Os apoios devem ser de ordem variada desde a mais óbvia – financeira - até àquela mais intangível mas tão fundamental, e que ampara os impactos na saúde mental desta situação de catástrofe nacional.

Com uma luta insistente. Para que passemos por tudo isto mais uma vez vitoriosos e para que tenhamos todos acesso às vacinas que são tão necessárias neste momento. Um povo que enfrentou tantos mares desconhecidos e tantas tormentas vai conseguir, com certeza, ultrapassar mais este cabo.

Sibila Marques é professora e investigadora de Psicologia Social no Iscte e autora do livro Discriminação da Terceira Idade, publicado pela Fundação.

 

O acordo ortográfico utilizado neste artigo foi definido pela autora.

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